terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Amor


Amour
(Áustria, 2012) De Michael Haneke. Com Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva e Isabelle Hupert.

Não se deixe levar pelo título. Mesmo se tratando de Michael Haneke, o aviso se faz válido. “Amor” é sobre amor? De certa forma sim. Ao contar a história de um casal de idosos que sofre com uma doença degenerativa que afeta a mulher, Haneke joga um drama que afeta o espectador de uma forma irreversível. Afinal, como assistir impassível a uma mulher definhando bem em frente dos nossos olhos? “Amor” é um drama profundo, onde é preciso ter estômago para aguentar aquilo que, muitas vezes, nós não queremos ver. E esse é o principal trunfo do filme. Mesmo com algumas cenas truncadas e uma narrativa que, convenhamos, precisa de certa paciência no início, o filme prende por conseguir extrair de quem assiste uma reflexão interna, não só do seu próprio futuro, como também de seu passado. São poucos os longas que conseguem essa proeza e, talvez, resida aí a razão do sucesso de “Amor”, que, surpreendentemente, chegou à categoria de Melhor Filme no Oscar.

Anne é uma ex-professora de piano que mora sozinha com seu marido, Georges. Após um incidente em casa, ela é submetida a uma cirurgia que deixa danos irreversíveis, como uma paralisia completa do lado direito do seu corpo. Aos poucos, Anne se torna mais e mais dependente de Georges, que passa a ter que lidar com as pressões da filha para que Anne seja cuidada em um hospital ou numa casa de repouso. Ao mesmo tempo, as lembranças da vida saudável da esposa e a pressão de ter que conviver com a doença serão uma prova de fogo ao casamento, ao amor e a sanidade do próprio Georges.


Com um estilo que já é inerente à sua filmografia, Michael Haneke constrói um filme que provoca a reflexão com a sua narrativa, embora algumas passagens arrastadas e cortes inusitados possam prejudicar o entendimento do espectador que não esteja muito acostumado com a estética do cinema europeu. Mesmo assim, o estilo simples de filmar, com planos que priorizam o ambiente, mostrando como os personagens se comportam no espaço (no caso, o apartamento dos dois, basicamente a única locação de peso do filme), ajudam ao espectador a entrar no clima do filme, a submergir na história e ser tragado pelo turbilhão de emoções que o casal atravessa.

Aliás, não deve mesmo ter sido fácil para Emmanuelle Riva atravessar essas emoções todas. Interpretar uma mulher com uma doença grave como Anne requer atenção a detalhes e uma competência que, mal interpretada, pode mais chocar e ofender do que comover. A atriz entrega uma performance memorável. Nas cenas em que Anne aparece saudável podemos ver a diferença quando ela já está doente. A cada expressão de Emmanuelle nas telas, sentimos a dor e confusão que a personagem está passando. Não por acaso, ela está entre as favoritas ao Oscar desse ano. 


Apesar de menos lembrado pela crítica, o veterano ator Jean-Louis Trintignant também ganha destaque como Georges, o principal pilar de Anne na família e principal razão para o título do filme. Isabelle Hupert, como a filha do casal, completa o elenco.

Haneke não deve levar o Oscar de Melhor Filme, embora a história mereça. É um filme que mexe com os sentimentos de quem assiste ao filme e evoca tantos temas que fica difícil elencar aqui. É complicado estabelecer por quais deles você se emociona e comove mais. Filmes assim não aparecem todo dia.

Nota: 9,0

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