sexta-feira, 20 de julho de 2012

Chernobyl

Chernobyl Diaries
(EUA, 2012) De Bradley Parker. Com Jesse McCartney, Johnathan Sadowski, Olivia Dudley, Ingrid Berdal e Dimitri Diatchenko.

Você já assistiu a este filme. Grupo de jovens se perde no meio do nada e um a um vai morrendo. No fim, descobre-se o mistério que (geralmente) não é satisfatório. Pegue esse roteiro e faça com que ele se passe em Chernobyl, a cidade ucraniana devastada por um acidente nuclear na década de 1980. O que parece ser uma ideia de gênio se transforma num filme absolutamente sem pretexto, com único intuito de mostrar gente morrendo. O terror que pretende ser do tipo mais psicológico e não mostra o que é o monstro/assassino/força sobrenatural em questão de início, não funciona e aposta mais em momentos toscos do que no desenrolar da história em si.

Os amigos Zoe, Amanda e Chris encontram Paul, irmão de Chris, na Ucrânia, de onde eles devem embarcar num passeio turístico a Moscou. Porém, Paul consegue um passeio à cidade fantasma de Pripyat, vizinha à usina nuclear de Chernobyl. Além deles e de Uri, o guia, mais dois turistas se juntam ao passeio. A princípio, todos são barrados, mas Uri conhece um desvio e eles acabam por entrar na cidade, mesmo consciente dos níveis de radiação. Conforme alguns eventos estranhos acontecem, eles decidem ir embora, mas a van de Uri quebra e eles ficam à deriva, em plena Pripyiat. Quando anoitece, o perigo aumenta, colocando a vida de todos em risco, fazendo com que eles sejam atacados criaturas estranhas.


Como se não fosse o suficiente não conseguir fazer o espectador acreditar que aquela história pudesse mesmo se passar em Chernobyl na maior tranquilidade (!), o suspense também não contribui nem um pouco para torná-lo crível. A cada passo dos personagens dentro da cidade-fantasma, uma situação bizarra acontece, a ponto de um urso (sim, um urso) estar escondido dentro de um prédio, no maior clima de “Lost”. 

As atuações não convencem e o roteiro não explica nada sobre o que pode ter acontecido no local (além do próprio acidente nuclear, claro) para que os mistérios e perigos pudessem estar acontecendo. Afinal, quem são os inimigos? São zumbis? São pessoas contaminadas pela radiação? E os animais? Também foram contaminados? Mas não deviam ter morrido todos? Eles têm intelecto, mas comem gente? Como é que é isso? Enfim, se um roteiro levanta mais perguntas do que consegue responder, sinal de que eu não devia estar prestando atenção a elas. O final, tão clichê quanto possível, deixa claro o que você já sabia desde o começo. Melhor ler sobre o caso Chernobyl na internet, que dá muito mais medo.

Nota: 3,0

terça-feira, 17 de julho de 2012

Na Estrada

On the Road
(França, UK, EUA e Brasil, 2012). De Walter Salles. Com Sam Riley, Garrett Hedlund, Kristen Stewart, Kristen Dunst, Amy Adams, Tom Sturridge, Danny Morgan, Alice Braga, Elisabeth Moss e Viggo Mortensen.

Por Raphael Evangelista*

Após “Diários de Motocicleta”, o cineasta brasileiro Walter Salles se junta novamente ao roteirista José Rivera e retorna ao gênero do road movie no seu mais recente projeto estrangeiro, apresentando uma adaptação do romance norte-americano “On the Road”, do escritor Jack Kerouac. Já exibido no Festival de Cannes desse ano, o novo filme de Salles teve bom desempenho ao transportar para as telas a jornada de um grupo de amigos em busca de liberdade e de autoconhecimento. Apesar da expectativa, o filme não se concentra apenas na típica receita de um carro desbravando as estradas afora, mas sim no espírito jovem, na personalidade marcante e nas relações e experiências sentimentais entre seus personagens principais. Mas mesmo com um bom elenco, a produção de Francis Ford Coppola e uma história a principio empolgante, o longa-metragem acaba se tornando cansativo no seu desenrolar e parece se arrastar até um final clichê.

A história se desenvolve em torno de Sal Paradise (Sam Riley), um jovem burguês aspirante a escritor que, após o falecimento de seu pai, conhece e se aproxima do ex-prisioneiro Dean Moriarty (Garrett Hedlund). Sempre em busca de um bom roteiro para o seu livro, Sal acaba se aproximando cada vez mais de Dean, tornando-o um objeto de veneração, devido à mente aberta, vontade de conhecer o mundo e a moral inconstante do rapaz. Na companhia de seu novo amigo e sua jovem esposa Marylou (Kristen Stewart), o protagonista embarca em uma viagem de descobertas pelas estradas dos Estados Unidos, se aventurando em um mundo repleto de drogas, álcool e muito sexo. 


A película tem seus pontos altos e o diretor acerta em misturar cenas de dramaticidade com outras que rendem boas risadas. Vale destacar a cena inicial, que mostra a câmera acompanhando os pés do protagonista enquanto ele cantarola caminhando sobre o solo seco, e as cenas de nudez e sexo que não são nem um pouco gratuitas. Contando com um elenco que demonstrou ótimo desempenho, o espectador mergulha facilmente nas aventuras dos personagens, que desfrutam de sua jovialidade e se libertam de qualquer julgamento. O roteiro não se preocupa em dar explicações sobre seus personagens, ao invés disso prefere demonstrar suas personalidades através de suas experiências. Garrett Hedlund consegue um Dean Moriarty seguro de si e sedutor, enquanto que Kristen Stewart entrega um de seus melhores trabalhos, transportando a sensualidade e a paixão adolescente à sua Marylou, mostrando que talvez se dê melhor com personagens que mais se pareçam com ela. Kirsten Dunst também está bem na pele de Camille, assim como Viggo Mortensen na sua curta participação como Old Bull Lee.

No geral, “Na Estrada” é um filme bonito e consegue trabalhar bem as aventuras dos personagens, mostrando que algumas experiências são importantes na vida das pessoas, e dando uma grande lição no que diz respeito à evolução e na passagem para a vida adulta, principalmente sobre a amizade. A trilha sonora de Gustavo Santaolalla e a fotografia de Eric Gautier favorecem a beleza e o espírito do longa. O único problema que pode abalar toda a impressão do filme é sua duração, que parece se arrastar depois de sua primeira hora de projeção, aliado a um desfecho previsível em se tratando de uma jornada de um escritor que procura reunir boas histórias para o seu futuro livro. “Na Estrada” diverte e emociona com suas boas atuações, e cumpre o seu papel como adaptação de uma obra literária, talvez entrando para a lista dos melhores filmes de Walter Salles.

Nota: 8,0

 *A resenha foi escrita pelo parceiro Raphael Evangelista, em sua primeira colaboração aqui para o blog. Espero que seja a primeira de muitas!




quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Espetacular Homem-Aranha

The Amazing Spider-Man
(EUA, 2012). De Marc Webb. Com Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Sally Field, Martin Sheen e Denis Leary

Lançado em 2002, o primeiro “Homem-Aranha” é simbólico para diversos fãs de quadrinhos e cinema (e filmes de quadrinhos). Significava o novo rumo que as adaptações das histórias de super-heróis iriam tomar. Mais denso e profundo, mostrando um Peter Parker gente como a gente, um herói real que sofre, sangra e tem mazelas em sua vida, o filme de Sam Raimi gerou duas continuações e marcou a carreira de Tobey Maguire e Kirsten Dunst. Dez anos depois, a franquia se reinventa, desta vez pelas mãos do diretor Marc Webb (500 Dias Com Ela). E as diferenças não poderiam ser mais gritantes. Apesar de a história ser, em sua maioria, a mesma, a forma de ser contada é que mudou. A Sony apostou em uma nova abordagem dos quadrinhos, colocando um Peter mais jovem e espontâneo, como um adolescente normal (e não o Homem-Aranha maduro da trilogia original). Isso deu leveza ao novo filme, levando-o mais para o lado da comédia e dando um tom mais de aventura do que de ação.

Peter Parker é um adolescente comum, com problemas com os valentões da escola, mas não chega a ser totalmente um excluído. Ele mora com os tios desde a morte dos pais, que começa a investigar após achar uma antiga valise.  Assim, ele conhece o Dr. Curt Connors, cientista que trabalhava com o seu pai em uma fórmula para regeneração de células. Em meio a uma visita ao seu laboratório, Parker encontra uma câmara onde aranhas geneticamente modificadas são cultivadas. É lá que ele acaba sendo picado, tendo o seu próprio DNA modificado, ganhando assim super força e um sentido aguçado, como o das aranhas. Com isso, o garoto passa a se aventurar e se gabar de seus novos poderes, até a morte do tio Ben, que sempre o criou. Ele sai em busca do assassino do tio e, assim, se transforma no Homem-Aranha, o vigilante das ruas de Nova York passa a ser caçado pela polícia. Nesse meio tempo, Parker se vê às voltas com Gwen Stacy, sua colega de classe, interesse amoroso e filha do chefe de polícia. Enquanto isso, os planos do Dr. Connors saem pela culatra após testar nele mesmo uma fórmula extraída das propriedades regenerativas dos lagartos, transformando-o em um super Lagarto. Seus planos então mudam para forçar a humanidade como um todo a evoluir, começando pelo espalhamento da fórmula por toda a cidade.

“O Espetacular Homem-Aranha” tem um apelo mais jovem, depositando suas forças principalmente nas costas de Andrew Garfield, que faz jus à nova roupagem que o herói ganha. A história, mais próxima da vista no desenho animado de mesmo nome, envolve mais gags de humor e a forma como Peter Parker ganha os seus poderes e se transforma em Homem-Aranha é mais convincente. Livre dos dramas da trilogia anterior, o filme mostra um Peter Parker ainda experimentando os poderes e, de certa forma, se vangloriando deles. Nesse aspecto, o filme acerta mais pela aproximação de seu público-alvo, os jovens de hoje (e não os de dez anos atrás).

Emma Stone está confortável no papel de Gwen Stacy, apesar de não estar tão cômica como o de costume. Alguns podem estranhar a saída de Mary-Jane Watson, a mais conhecida namorada do Homem-Aranha, mas Gwen se encaixa bem sem nenhuma menção à ruiva. Rhys Ifans até que dá um bom Curt Connors, mas o visual do Lagarto deixa um pouco a desejar, em especial pela face da criatura. Em comparação com filmes anteriores, os efeitos visuais são melhor empregados, mas o Lagarto poderia ser melhor trabalhado. Já Martin Sheen e Sally Field, nos papeis de Tio Ben e Tia May, apesar de aparecerem pouco, conseguem mostrar o talento que ambos tem, já visto também ao longo dos seus anos de carreira.
 
A Sony, apesar de toda a pressão e críticas que recebeu ao informar que iria reinventar toda a franquia, acabou acertando por dar uma cara nova ao personagem e à história em si, deixando-a diferente em certos pontos. Marc Webb também acertou na condução da trama da forma leve que estamos acostumados a ver seus trabalhos. No entanto, este filme ainda perde um pouco o apelo que o original teve, com menos ação e mais diversão. “O Espetacular Homem-Aranha” diverte e faz seu papel ao tirar a imagem cansada que “Homem-Aranha 3” deixou na franquia, servindo bem ao espetáculo que propõe, iniciando uma nova trilogia.

Nota: 8,0
Efeitos 3D/IMAX: 6,0


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Para Roma com Amor


 To Rome With Love
(EUA, Itália, 2012) De Woody Allen. Com Alec Baldwin, Jesse Eisenberg, Ellen Page, Roberto Benigni, Penélope Cruz, Woody Allen, Allison Pill, Flavio Parenti, Judy Davis, Alessandra Mastronardi, Alessandro TIberi e Monica Nappo.

Começar o texto dizendo que o Woody Allen é sempre Woody Allen é o mais batido de todos os clichês. Mas é esse o clichê que faz “Para Roma Com Amor” ser surpreendente. Ao se esperar mais uma história de amor, desta vez usando Roma como pano de fundo, o espectador se vê no meio de uma comédia de erros no melhor estilo de Woody Allen, com piadas sarcásticas, situações inusitadas e, claro, uma pitada de romance e sexo, que não faz mal a ninguém. E, claro, tem Roma, a cidade encantadora por si só. Ficamos pensando porque Allen ficou tanto tempo preso à Nova York quando tinha tantas belezas mundo afora que combinam esplendorosamente com seu estilo: Londres, Barcelona, Paris, Roma... Talvez o Rio de Janeiro entre nessa dança em breve. 

O filme traz quatro situações passadas em Roma, uma cidade cheia de histórias pra contar. Um arquiteto renomado encontra um estudante de arquitetura seguindo os mesmos passos dele anos antes; Um produtor de ópera aposentado encontra a chance de voltar aos palcos ao descobrir, nos pais do noivo de sua filha, um possível cantor lírico; Um casal recém-casado vai a Roma para que a família dele conheça a esposa. Ela se perde na cidade e, enquanto ela visita uma Roma de celebridades e gente famosa, ele acaba por ver uma prostituta no lugar da esposa e, o jeito, é tentar impressionar a família assim mesmo; E um cidadão comum, fascinado pelo mundo dos famosos, tem um dia de celebridade, com paparazzi, repórteres e fãs no seu pé, querendo saber tudo da sua rotina. 


Apesar de várias situações, nenhuma se entrelaça, mas também nenhuma se perde. Todas encantam ao mesmo tempo em que divertem, trazendo situações inusitadas. Penélope Cruz repete a parceria com Woody Allen vivendo uma prostitua italiana exala sensualidade, como já é próprio de sua natureza. Alec Baldwin leva para as telas seu trejeito cômico, enquanto contracena com novas caras como Ellen Page e Jesse Eisenberg. Já o núcleo italiano, encabeçado por Roberto Benigni, também dá um show. Benigni, inclusive, é responsável pela maioria das cenas cômicas, personalizando a sátira que Woody Allen faz ao mundo das celebridades, com muitas futilidades estampando os jornais e tabloides.

Woody Allen volta a atuar nesse filme, após “Scoop” de 2005. E só ele para conseguir personificar o produtor chato que, quando vai conhecer os pais do futuro genro, começa a fazer de tudo para voltar a trabalhar, nem que use o próprio sogro da filha. As piadas, tiradas sarcásticas, tão típicas do diretor (e ditas por ele mesmo) dão um charme único ao filme que, sem dúvida, entra no rol de suas melhores produções. É, sem dúvida, uma crônica com as melhores histórias que poderiam ser desenroladas na Roma atual. Como o título diz, é como se fosse um poema para Roma, com amor.

Nota: 9,0