quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Histórias Cruzadas

The Help
(EUA, 2011) De Tate Taylor. Com Emma Stone, Viola Davis, Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Octavia Spencer, Sissy Spacek, Cicely Tyson e Allison Janney.

Não dá pra dizer que “Histórias Cruzadas” não seja um bom filme. A produção é sofisticada, a história é feita pra conquistar qualquer um e as atuações (sem exceção) estão ótimas. Não surpreende o filme ter ganhado o prêmio de Melhor Elenco no Screen Actors Guild Awards, do Sindicato dos Atores americanos. Com momentos que variam do riso às lágrimas, o filme é leve e, por tratar de situações facilmente encontráveis no mundo real atual, por mais que o filme se passe nos anos 1960, a identificação é automática. No entanto, “Histórias Cruzadas” é um filme preguiçoso e um tanto pretensioso. Apoia-se em bons elementos que fazem parte do mais puro manual de clichês de como fazer filmes, sem se aprofundar nos sentimentos dos personagens, deixando tudo em uma camada superficial e estereotipada. Talvez tenha sido esta a intenção de Tate Taylor, dirigindo seu primeiro filme relevante: marcar personagens pelo estereótipo para facilitar a identificação e aceitação da história. Afinal, estamos falando de uma ferida aberta na sociedade americana, a segregação racial. Porém, parece que ele apenas tocou na ferida de leve para passar o mercúrio-cromo por cima logo depois.
 
Na cidade de Jackson, Mississipi, a jovem Eugenia “Skeeter” Phelan se vê no meio de um dilema quando percebe não ser uma moça dos padrões da sociedade em que vive. Suas amigas de colegial já são donas de casa e refletem um temperamento arrogante e mesquinho típicos de uma classe média americana dos anos 1960. Skeeter não apenas quer ser independente como enxerga o mundo em que vive de outra forma. Ela não partilha dos mesmos ideais de segregação racial que as “amigas” possuem e acha que negros e brancos podem conviver integradamente na sociedade. Quando consegue um emprego em um jornal para escrever sobre assuntos domésticos, Skeeter se aproxima de Aibeleen, empregada de uma de suas amigas e acaba descobrindo a intrigante história da mulher que não sabe fazer outra coisa a não ser empregada doméstica. Assim como Aibeleen, outras empregadas negras passam por situações em que são obrigadas a conviver separadas, justamente pela cor de suas peles. É aí que Skeeter decide escrever um livro, mostrando o dia a dia dessas empregadas e o ponto de vista delas sobre o mundo. Porém, o medo de revelar esses segredos que apoiam a integração dos negros acaba complicando a convivência das empregadas com seus patrões. Aibeleen, porém, cansada dos abusos e idiotices que atura no trabalho, decide firmar posição e levar o projeto do livro adiante.
 
O bom de “Histórias Cruzadas” é mesmo o elenco. Viola Davis merece a indicação ao Oscar por sua interpretação de uma Aibeleen sofrida e batalhadora. Cada suspiro, cada olhar e atitude da atriz denota o peso de sua personagem. Assim como Viola, outras atrizes do elenco dão o seu melhor nas atuações. Bryce Dallas Howard talvez tenha feito o melhor personagem de sua carreira, como a vilã do filme Hilly Holbrook. Octavia Spencer como a amiga de Aibeleen, Minny, é o alívio cômico da trama, embora também saiba dosar momentos dramáticos. Jessica Chastain, se afastando da personagem serena de “A Árvore da Vida”, interpreta a maluquinha Celia, que é rejeitada pelas amigas por ser um pouco mais excêntrica, embora os motivos de sua exclusão fiquem mais claros conforme o filme avança. E Emma Stone, a desajustada Skeeter, verdadeira protagonista da trama, prova a força das mulheres da época, que batalham pela independência sem deixar de lado a feminilidade.


 
Fiz tantos elogios às atuações porque são elas que sustentam um roteiro óbvio e maniqueísta.  O filme não tem medo de apelar para as lágrimas a todo momento e delimita claramente quem é do bem e quem é do mal. Mesmo as reviravoltas são meio sem pé nem cabeça e a trama se prende mais aos eventos que envolvem uma torta do que no drama pessoal de Aibeleen e das outras empregadas. O riso vem fácil, as lágrimas caem diante do cenário triste que o diretor pinta sem dó e o filme convence, apesar de tudo. Faz o espectador refletir, pensar e se indignar na medida certa, embora haja exageros em algumas cenas. Porém, a trama é rasa, não tão digna de Oscar de melhor filme, por exemplo. Um grande clichê bem filmado, um bom filme, divertido, com boas atuações. Um ponto positivo para falar sobre segregação racial, mas que podia ser mais relacionado ao que ele mesmo se vende.
 
Nota: 7,5

*Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Atriz (Viola Davis) e Melhor Atriz Coadjuvante (Jessica Chastain e Octavia Spencer).


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