sábado, 27 de novembro de 2010

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

You Will Meet a Tall Dark Stranger
(EUA/UK, 2009) De Woody Allen. Com Anthony Hopkins, Naomi Watts, Gemma Jones, Josh Brolin, Freida Pinto, Antonio Banderas e Lucy Punch.

Já participo da cobertura do Festival do Rio há 3 anos, fora os anos que já estive como mero espectador. Confesso que nunca vi uma fila como a que eu vi se formar para "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos", novo de Woody Allen. É claro que tudo isso foi uma ilusão minha, já que o Festival deve ter filas grandes em quase todas as sessões, mas pude ver pela procura dos ingressos e pela quantidade de pessoas na fila, a força que Allen tem como diretor. Há dois anos, eu vivi a mesma coisa na sessão de "Vicky Cristina Barcelona" e reafirmo a admiração por um cineasta que mudou (pra melhor) ao longo dos anos. Comédias românticas ainda são o forte dele, mas a dose de realidade que explora a complexidade humana continua nos surpreendendo.

Helena está passando por um momento complicado de sua vida, após seu marido, Alfie, pedir a separação depois de 40 anos de casado. Ele diz que se recusou a envelhecer e procurou um novo estilo de vida, mais "jovem". Helena não se conforma e chegou até a tentar o suicídio, mas encontra conforto mesmo nas palavras da vidente Cristal, que dá os mais variados palpites sobre a sua vida, e a de sua filha Sally. Ela é casada com Roy, um escritor com problemas em publicar seu novo romance e o casal depende de Helena para continuar pagando as contas. Sally trabalha numa galeria de arte e se vê cada vez mais atraída por seu patrão, Greg. Já Roy encontra uma nova musa inspiradora na vizinha da frente, a estudante Dia, que está sempre de vermelho. Pra sacudir mais essa família, Alfie decide se casar com uma mulher três vezes mais nova que ele, a desvairada Charmaine, e Helena se vê as voltas com a chance de um possível novo amor, um estranho alto e moreno previsto por Cristal.



O que se pode dizer mais senão que esse é um filme de Woody Allen? Apesar de ser inconclusivo e bem mais fraco que "Vicky Cristina Barcelona" ou "Match Point", o diretor aplica toda a sua experiência nas relações humanas modernas e explora como as pessoas podem ficar perdidas depois de muito tempo acomodadas em suas posições. Sobretudo quando diz respeito a envelhecer e a formar família. O filme tem uma leveza única que cativa o espectador do início ao fim.



Allen acertou na escolha do elenco e do cenário. Ele transforma Londres em um lugar irreconhecível, se afastando do tom cinzento e dos prédios vitorianos que sempre são mostrados nos filmes. Anthony Hopkins sustenta o personagem do sessentão que passa por uma crise da velhice e Gemma Jones também está ótima. O papel de musa do filme sai de Scarlett Johanson e passa para Freida Pinto, a nova cara do cinema indiano em Hollywood. E os atores Josh Brolin, Naomi Watts e Antonio Banderas, no auge da maturidade e de suas carreiras como atores, arrematam o tom suave do filme. O rosto mais desconhecido do longa, Lucy Punch, cumpre seu papel como a loira burra interesseira, embora seu personagem desperte um certo asco (será que não era isso que Allen almejava?).


Parece que os dias de noivo neurótico de Woody Allen acabaram, para dar lugar a um novo estilo. Ele consegue compreender os ritmos da nova sociedade moderna, e isso em qualquer lugar, seja em Nova York, na Espanha ou em Londres. Sua filmografia atual traça uma biografia dos novos relacionamentos, assim como "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" fez com a sociedade dos anos 1970, só que sem a mesma neurose, já que os tempos são outros. E "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos" entra para esse arsenal.

Nota: 9,0


OBS: Filme assistido no Festival do Rio 2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Cinemarcos - 3 ANOS!!


3 anos. Nossa, tem tudo isso mesmo? Isso me lembra que há esse tempo eu estava começando uma tranformação mental que veio com a entrada na faculdade. E tanta coisa aconteceu desde lá. Conheci e desconheci pessoas que passaram, deixaram sua marca, foram embora ou continuam por aí, sempre ao alcance do braço. Assisti a muitos filmes, claro, aumentei o vício de internet e conheci o Facebook e o Twitter! Uau, olha só, há 3 anos essas duas ferramentas que não conseguimos viver sem hoje sequer eram conhecidas do grande público, ainda engatinhavam no nosso Brasil.

O meu blog é como um filho. A gente cuida, dá carinho, briga de vez em quando, finge que esquece pra ver se toma vergonha e vê crescer. Eu vi o meu crescer . Claro, ele ainda não é o maior blog de cinema do país, nem é nenhum formador de opinião da sociedade. Mas é meu. E na condição de meu, considero-o o melhor pra mim. São só 3 anos escrevendo publicamente, mas são 23 vivendo intensamente a essência dos textos que compõem esse blog. 3 anos depois eu sou outro, sou diferente, sou igual. Nem o cinema é o mesmo. Os filmes mudaram, os diretores mudaram. Há 3 anos atrás, não existiam vampiros brilhantes nem lobisomens descamisados. Não existia gente colorida. Não existiam filmes sendo exibidos em 3D. Não tinha tanto blu-ray a rodo.

Mas o cinema está aí, não está? Cada dia mudando as suas perspectivas e sobrevivendo a toda horda tecnológica que as pessoas acham que irá detoná-lo. Ele segue firme. E enquanto existirem filmes, vontade de escrever e uma ferramenta que me proporcione isso, aqui estarei eu, comentando, discutindo, discordando, elogiando, criticando ou só sendo eu.

sábado, 20 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1

Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 1
(EUA/UK, 2010) De David Yates. Com Daniel Radcliff, Rupert Grint, Emma Watson, Ralph Fiennes, Tom Felton, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Evana Lynch, Imelda Staunton, Bill Nighly, Rhys Ifant, Julie Walters, Helen McCroy, Jason Isaacs, Brendan Gleeson, David Thewlis.

Há quase dez anos os fãs da saga Harry Potter esperam por esse momento. Desde quando o primeiro filme foi lançado, esperar pelo último, que vai pôr um fim em tudo o que foi escrito e vivido por milhões de pessoas ao redor do globo se tornou um hábito inevitável. A melhor parte de poder sentar e assistir às mais de 2 horas e 30 minutos de "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1" é ver que, por mais que alguns detalhes estajem (obviamente) subtraídos, a maior parte do filme está ali descrita com uma precisão incrível. A floresta, o chalé das conchas, o Ministério da Magia, tudo. Finalmente aprenderam a fazer um filme completo e dar o desfecho que a saga merece.

Na primeira parte do último capítulo da saga, Harry precisa procurar as outras quatro Horcruxes que contém partes da alma de Voldemort, enquanto o Senhor das Trevas domina o mundo bruxo e parte em busca de uma varinha que seja capaz de matar o seu oponente. Depois de um ataque à uma festa de casamento na família Weasley, Harry, Rony e Hermione saem sozinhos migrando de lugar em lugar em busca das horcruxes. Mas nessa jornada eles irão ver que tem muito mais em jogo do que simplesmente matar Voldemort e sim descobrir muito mais sobre eles mesmos e sobre a amizade e a compaixão que sempre uniu o trio. Harry ainda terá que descobrir onde estão e quais são as horcruxes desaparecidas, e porque um sinal relativo às Relíquias da Morte insistem em aparecer.

A trama é extensa e complexa e justifica a divisão do filme em dois. Por mais que o motivo seja principalmente comercial, não daria mesmo pra colocar tantos detalhes da história em apenas um filme, a menos que ele fosse mais mutilado do que os outros seis filmes. Ao mesmo tempo, dá a impressão de que apenas fãs que leram o livro final irão entender a história. Olhando por um certo ângulo, montagem, junção de roteiro e outros aspectos fazem o filme perder um pouco a consistência no geral, embora isso não tire o brilhantismo da sua realização.

HP7-1 é o melhor filme da série até agora. É o que mais traduziu na tela o sentimento de aflição e tristeza que permeia a história, uma vez que o mundo bruxo está sendo assolado pelas forças das trevas e não há esperança pra ninguém. Isso fica mais evidente com a trilha sonora e com a fotografia do filme, sempre em tons escuros que em nada lembra os tons mais quentes e alegres de um longínquo "Harry Potter e a Pedra Filosofal". Apesar disso, manter a esperança e estar junto dos amigos é importante e esse parece ser o papel do Eleito, Harry Potter, que parte em busca da salvação do mundo bruxo não apenas por heroísmo banal, mas porque só ele conhece bem Lord Voldemort, suas intenções e aspirações, conhecimentos que lhe foram passados ao longo de sua curta vida acadêmica.

Com relação ao filme, os efeitos especiais nunca estiveram tão aprimorados e as cenas de ação dão agilidade ao filme - tanto que eu não me importaria em ficar ali por outras 3 horas, se resolvessem fazer tudo num único filme. O desempenho dos atores principais foi o melhor de toda a saga, como se eles estivessem dando cada gota do suor de seu trabalho pra fazer tudo perfeito na parte que termina. David Yates mostrou porque se tornou o diretor definitivo da série e imagino o que teria acontecido se ele tivesse dirigido todos. Com "HP7-1" ele se torna o diretor que esteve mais vezes à frente da saga, superando Chris Columbus e as duas partes iniciais.

Destaque também para a cena que descreve o "Conto dos Três Irmãos", importantíssimo para a história das Relíquias da Morte, que é contado através de uma animação impecável, que lembra os "Contos do Cargueiro Negro", história à parte do filme "Watchmen". Outro destaque para a participação de Dobby, o elfo doméstico do segundo filme, que ressurge para alegria (e tristeza) dos fãs. Posso dizer que Dobby foi amplamente aplaudido na sessão que eu assisti. Aliás, falando no segundo filme, tive a impressão que nesta última parte o espectador revive todos os outros filmes junto com Harry: o pomo de ouro, o mapa do maroto Dolores Umbridge, Dobby, Fleur deLaCour e Madame Maxime, a família Malfoy,
entre outras coisas.

O início do fim deixa claro de que esse é o melhor filme da série, mas só até agora. Infelizmente ficaremos com gostinho de quero mais até àquele que deve ser mesmo o melhor de todos os filmes, a Parte 2. É bom nem ir contando os segundos, porque uma vez os créditos finais de "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" subam, em julho de 2011, saberemos que realmente terá sido o fim.

Nota: 9,5

domingo, 14 de novembro de 2010

Waiting Harry


"Já era hora. Passou devagar demais." ou "Já??? Não acredito, passou muito rápido!!"? Não importa a que grupo de reações você pertence, o importante é que estamos a menos de uma semana de "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1". O que antes soava esquisito por um livro ser dividido em dois, agora dá até um certo alívio de que, não só a saga ainda tem mais um capítulo, como deverá ser mais fiel já que teremos mais espaço para os detalhes.

Outra coisa importante é que está pra terminar a maior franquia do cinema. Sim, a maior, goste você ou não. No fim de 2011, serão sete filmes que faturaram juntos mais do que toda a franquia 007 - que tem 22 filmes! Nunca uma saga participou da vida de adolescentes como Harry Potter - Crepúsculo não conta! Todos os que leram cresceram com Harry, amadureceram com Harry e agora é que a adolescencia efetivamente termina. Assim como o trio mais famoso de Hogwarts cresce, seus espectadores também cresceram.

Ano que vem ainda tem mais um capítulo - verdadeiramente o último - o que pode nos dar o maior final épico da história do cinema ou simplesmente estragar a franquia toda, é questão de um ponto de vista. Mas Harry Potter não sai do cinema igual a como estava quando começou, dez anos atrás com "A Pedra Filosofal". Harry sai diferente. E nós também.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Jogos Mortais - O Final

Saw 3D
(EUA, 2010) De Kevin Greutert. Com Costas Mandylor, Betsy Russell, Carl Elwes, Sean Patrick Flanery, Chad Donella, Gina Holden e Tobin Bell.

Considerando os sete filmes, pode-se dizer que “Jogos Mortais” é a franquia de terror mais badalada do cinema moderno. Mesmo que apenas o primeiro seja considerado “genial” e os outros seis – incluindo este último – estejam mais para um banho de sangue sem propósito, os filmes formam uma identidade com o público que o assiste que não acontecia desde outras grandes franquias do gênero, como “Sexta-Feira 13” nos anos 1980 e “Pânico”, nos 1990. Deixo aqui registrado o meu reconhecimento aos sete filmes, que construíram a alma mítica do assassino Jigsaw, espalhando a sua história por toda a franquia e nos fazendo pensar se ele merecia pena ou não. Sim, a franquia tem 90% carnificina desencabida, mas tem seus méritos, concorde o público ou não.

Na sétima (e última, segundo os produtores) parte dos Jogos, a ex-mulher de Jigsaw, Jill, recorre à polícia para pedir proteção contra o sucessor do serial killer, o perturbado Hoffman. Cabe ao oficial Gibson a missão de investigar o envolvimento dele com os jogos que continuaram mesmo depois da morte de Jigsaw. Enquanto isso, um homem faz fama e fortuna contando a história de sua sobrevivência a um dos jogos em um livro e ajudando outros sobreviventes em reuniões de auto-ajuda. Só que ele vai cair mais uma vez numa armadilha e vai ter que provar que é digno de toda a admiração que vem recebendo, inclusive para salvar sua mulher, que está na armadilha com ele.



Não há nada de inovador em “Jogos Mortais – O Final”, a não ser as resoluções dos mistérios deixados pelo capítulo anterior e amarrando alguns pontos deixados soltos ao longo dos seis filmes – incluindo o primeiro. Como o filme fala basicamente da sobrevivência dos participantes e suas experiências psicológicas, outros integrantes dos filmes anteriores estão de volta, como o Dr. Gordon (Cary Elwes), do primeiro filme, e Simone (Tanedra Howard), do sexto.


No mais, há o já corriqueiro banho de sangue, agora com pedaços de carne voando em 3D. E os efeitos param por aí, nem perca seu tempo procurando uma sala 3D para ver “Jogos Mortais”, porque não compensa. Talvez seja até melhor ver a boa e velha projeção 2D nesse caso. O fim da franquia (será????) não vale tanto o seu dinheiro assim, mas pra quem já conferiu todos os filmes da saga, porque não prestigiar o capítulo final?

Nota: 6,5
Efeitos 3D: 1,0

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eu Matei a Minha Mãe

J'ai tué ma mère"
(
Canadá, 2008). De Xavier Dolan. Com Xavier Dolan e Anne Dorval.

Não, este não é um post confessional, graças ao bo Deus. Mas o filme, sim. Embora o título mais engane do que esclareça, foi exatamente o nome do filme que me fez querer assistir a "Eu Matei a Minha Mãe", há um ano atrás, no Festival do Rio 2009. E eis que só agora o filme desembarca em algumas salas Brasil afora, mesmo que merecesse ser visto pelas multidões. Esse é o filme de estreia de Xavier Dolan, mais novo gênio do cenário cool cinematográfico - dentro e fora do Canadá. Com apenas 20 anos e com um filme quase autobiográfico, Dolan conseguiu ir parar na Quinzena dos Realizadores em Cannes e fazer a alegria de um zilhão de jovens apaixonados iguais a ele: cools o suficiente para não se importar com a opinião dos outros, fazendo um cinema inovador.

"Eu Matei a Minha Mãe" conta a história de Hubert, um adolescente perdido em meio às descobertas da juventude que odeia a mãe. Odeia mesmo. Todas as atitudes dela são repulsivas a ele. Mas como odiar a própria mãe? Isos não é pecado? É sobre esses questionamentos que o filme se desenrola. Hubert ama e odeia a mãe ao mesmo tempo. Ela, por sua vez, não colabora nem um pouco para que a relação dos dois se estabeleça com harmonia. O pai, ausente, vê a solução em mandar o garoto para um colégio interno.

O filme é brilhantemente rodado. Durante a projeção vemos as emoções de Hubert se desenrolarem em metáforas visuais, no melhor estilo Amélie Poulain. E ainda tem o problema de o rapaz ser homossexual e não ter contado à mãe. Quando a mesma descobre, o pior não é ela ter descoberto e sim de ele não ter contado. Um filme lindo, que o mundo não aprecia. Na parede do quarto do namorado de Hubert vemos ícones da chamada "cultura pop": James Dean. Coco Chanel, River Phoenix, referências a Van Gogh e até à Audrey Hepburn. Realmente não observamos o cinema canadense com cuidado. Uma coisa mais me chamou a atenção no filme. Quando o personagem diz "Todo mundo odiou a mãe em algum momento, seja por um ano ou por um segundo", ele está errado?

Só pra constar: "Eu Matei a Minha Mãe" é a escolha do Canadá para o Oscar 2010.

Nota: 9,0