segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2


Tropa de Elite 2
(Brasil, 2010) De José Padilha. Com Wagner Moura, Irandhir Santos, André Ramiro, Maria Ribeiro, Thainá Muller, André Mattos, Milhem Cortaz e Seu Jorge.

Em 2007, um dos maiores filmes brasileiros estava sendo lançado. Isso em outubro, depois de um imenso barulho que o filme já estava fazendo havia meses, devido à venda de cópias piratas, em um camelô perto de você. Bravamente, contra toda a corrente que já esbravejava bordões como "Pede Pra Sair", "Faca na Caveira", "Bandido Bom é Bandido Morto" e afins, eu assiti ao filme apenas na sua estreia no cinema. Lembro do arrepio que deu quando começam os créditos iniciais e toca a música tema do filme, "Tropa de Elite", do Tijuana. Três anos depois, o burburinho é o mesmo, mas não por causa da pirataria, e sim por causa do combate a ela. "Tropa 2" chegou aguçando a mesma multidão que anos atrás aclamou Capitão Nascimento como ícone. O filme começa. Créditos iniciais com a mesma música tema. Arrepios.

Na continuação do filme de 2007, Roberto Nascimento, agora Coronel Nascimento, comanda o serviço de inteligência da Polícia Militar, após um incidente em Bangu 1 que o tirou do BOPE. Neste novo serviço, ele vai continuar a sua luta contra o tráfico, dando mais artilharia e condições para o BOPE, o que favorece um outro sistema corrupto, que se aproveita da expulsão do tráfico para ocupar as comunidades, cobrando por serviços: as milícias. Nascimento vai agora combater um inimigo que se encontra dentro da polícia, além de ter que resolver suas próprias questões familiares. Seu filho de 15 anos está cada vez mais distante e sua ex-mulher se casou novamente com um dos adversários de Nascimento, o ativista dos Direitos Humanos, Diogo Fraga. O problema é que Nascimento nem desconfia que o sistema corrupto que tem que combater tem proporções muito maiores do que imagina.


Nem dá pra dizer o quanto "Tropa 2" conseguiu se superar ao original. Talvez porque agora os eventos do filme estão muito mais próximos da realidade atual do Rio de Janeiro, fazendo com que todos os cariocas tenham aquela sensação de deja-vú. É muito dificil não relacionar cada personagem da ficção com os personagens da vida real, e ao mesmo tempo, não tem como você dizer que não é ficção. Mérito de José Padilha e Bráulio Mantovani, roteiristas do filme, que construiram um longa com uma ótima narrativa. Padilha também é mestre na direção, com imagens e angulações de câmera muito melhores do que em "Tropa 1".



Se por um lado a narrativa é a base para o filme funcionar, as atuações são a execução perfeita. Wagner Moura sustenta com perfeição o personagem que nasceu pra fazer, o osso-duro-de-roer e cismado Coronel Nascimento, que sempre busca fazer o bem e combater quem não faz. Todo o elenco se encaixa perfeitamente em seus papeis, ajudando o filme a ter um a carga dramática muito maior do que o primeiro. Mas é Wagner quem sempre traz de volta a essência do filme, quando o espectador acha que já está vendo um documentário.



Mesmo sem ter tantas referências que devem ficar na cultura pop brasileira, como o primeiro tinha, "Tropa de Elite 2" acerta ao trazer uma conotação profundamente política, como nunca antes vista no cinema nacional. É um filme que faz pensar e refletir sobre quem é quem no nosso cotidiano. Uma pena que o longa não tenha saído antes do primeiro turno das eleições. Muito deputado ia perder voto. Pena também que a maior parte da plateia que estava comigo no cinema (lotado) ficou decepcionada ao ver que não tinha tanta ação nesse segundo filme, e preferia ver mais balas comendo, mais vagabundo morrendo, ao invés de uma reflexão do nosso tempo*. É um erro achar que a franquia "Tropa de Elite" é só pra entreter as massas. Quem tem ouvidos, ouça.

Nota: 10



*Observação feita a partir dos comentários ouvidos ao término da sessão, feitos por espectadores do filme no UCI Kinoplex Norteshopping, no dia 10/10/10.

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