quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Lixo Extraordinário



Lixo Extraordinário / Waste Land
(Brasil/EUA, 2010). De Lucy Walker. Com Vik Muniz.

Você já se imaginou catando lixo para sobreviver? Provavelmente não. Mas ninguém nunca faz esse tipo de reflexão até ser confrontado com a realidade de pessoas que fazem isso diariamente. O problema é: essas pessoas gostam disso. Pelo menos é isso que o documentário "Lixo Extraordinário" vai investigar. Será mesmo que essas pessoas gostam do que fazem, ou elas simplesmente estão tão acostumadas com a sua realidade, que simplesmente não sabem que podem alcançar voos mais altos? Para o artista Vik Muniz, a transformação é possível, assim como o lixo pode virar obras de artes que valem milhões.

Vik Muniz já é reconhecido por seu trabalho no exterior, com as suas peças contruídas com material reciclável espalhadas em composições gigantes e depois retratadas. Para o seu próximo trabalho, ele decidiu que ia fazer diferente. Ele mergulhou no maior aterro sanitário do mundo, o Jardim Gramacho, que recebe toneladas de lixo do Rio e do Grande Rio. Foi quando ele viu que ali ele podia fazer muito mais. Através de personagens marcantes do aterro, como Tião, o presidente da associação que cuida dos interesses de catadores de lixo, Irmã, uma senhora que cozinha para os trabalhadores, entre outros, ele vai desenhando portifólios desses personagens, que cresceram ali sem nenhuma perspectiva.



Vik então convida alguns deles para participar do seu projeto. Primeiro ele tira fotos deles no aterro, e essas imagens vão se transformar em arte, feita pelos próprios catadores. O resultado desse trabalho vai ser vendido e o dinheiro revestido para obras sociais para os catadores. Mas isso vai muito além do dinheiro. O importante é a mudança de perspectiva que o trabalho com a arte causa nessas pessoas, que começam a ver uma oportunidade de vida melhor fora do lixo.

Apesar do filme soar pretensioso e até falso no começo (por causa dos diálogos em inglês, que parecem forçados), ao longo dele são os personagens que chamam mais atenção e a gente até esquece desse tom ruim no começo. Era necessário pro filme que fosse assim. O contraste de realidade é grande, mas será que é tão grande assim? No filme, conhecemos mais de Vik, que saiu de uma periferia de São Paulo e hoje tem um estúdio em Nova York. Vemos que o artista e seus novos "alunos" podem ter mais em comum do que ele mesmo imagina.


e é através dessas histórias magníficas, e da triste realidade passada no lixão, que o espectador para e analisa que é possível mudar de vida, se você mudar a sua perspectiva. Foi assim que Muniz encarou esse trabalho. ele deu o primeiro empurrão que foi necessário para que seus personagens tomassem impulso e seguissem a vida por eles mesmos. Mais uma vez a arte prova que pode mudar a vida das pessoas. O documentário ganha ritmo ao longo do tempo e termina de forma triunfal.

Não à toa, Vik Muniz, elenco e produção, foram ovacionados no Odeon por severos minutos ao fim da exibição.

Nota: 10

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