sexta-feira, 19 de junho de 2009

Intrigas de Estado (e do Estado - Crítica à decisão do STF)

19/junho/2009

State of Play (EUA, 2009)
De Kevin McDonald. Com Russel Crowe, Ben Affleck, Rachel McAdams, Robin Wright Penn, Jeff Bridges, Jason Bateman e Hellen Mirren.

São muitos os filmes que falam de jornalismo. "Todos os Homens do Presidente", "A Montanha dos Sete Abutres", "Boa Noite e Boa Sorte" e, claro, "Cidadão Kane", entre muitos outros. "Intrigas de Estado" pode ser incluído como um dos melhores nesse estilo. O filme mostra de perto a prática jornalística, a relação entre um profissional novato e um veterano e as novas práticas editoriais vide a crise do jornal impresso. Pois bem, como toda a nação jornalística brasileira está em crise por conta da decisão do nosso querido STF em revogar a obrigatoriedade do diploma, escolhi a maneira que mais gosto para protestar: falando de cinema.

Cal McAffrey é um veterano jornalista que tem nas mãos um banal caso de homicídio de um morador de rua. Em um outro ponto da cidade, a assistente do congressista Stephen Collins é encotrada morta em um suposto acidente no metrô. Quando Collins deixa trasparecer um caso com sua assistente, um escândalo que daria uma boa notícia começa a se formar e a jornalista novata Della Frey quer investigar o caso a fundo. Só que McAffrey é amigo pessoal de Collins e quer ajudar o amigo, ocultando algumas informações. Quando McAffrey descobre uma ligação entre o assassinato do morador de rua e a morte no metrô, a investigação toma um outro rumo e ele será capaz de tudo para conseguir uma boa história.

O roteiro de "Intrigas de Estado" é de Tony Gilroy. Pode não ser um nome muito conhecido mas o cara escreveu um dos melhores filmes do gênero há dois anos, "Conduta de Risco", sem falar em toda a trilogia Bourne. Então, o clime de espionagem, no caso, apuração (rs), é certeiro. O que impressiona é a naturalidade com que o clima de redação de jornal nos dias atuais passa para o espectador. Talvez para as pessoas comuns não faça muita diferença, mas para quem quer ser jornalista de verdade um dia, vale muito. Tudo funciona muito bem na tela, a relação de Russel Crowe com Rachel McAdams na corrida por uma boa história, escândalos políticos envolvendo grandes corporações, a crise do impresso e Hellen Mirren como uma Miranda Priestly sem Prada, mais amigável e bem mais realista.

Um filme brilhante que mostra os desafios da profissão. Talvez os nossos queridos ministros do supremo achem que é simples arrancar uma confissão de um entrevistado, conseguir um enconto com alguém importante, ou que qualquer pessoa possa ser mesmo capaz de passar credibilidade ao falar de um escândalo político. O STF se engana redondamente, ao tratar os jornalistas formados como simples técnicos da informação, mesmo que eu também reconheça que conta muito a vocação. Pois bem, serão eles mesmos as primeiras vítimas das consequências que essa decisão poderá trazer. Quanto àqueles que se matam todos os dias numa sala de aula, que ralaram por 1 ano ou mais para passar no vestibular, resta a consciência de que um espaço acadêmico é mais do que simplesmente formador de profissão, mas produtor de consciência, reflexão, discussão e sabedoria, coisa que não se aprende numa conversa de botequim.

Nota: Filme - 9,0
STF: 0

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