domingo, 7 de setembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira

Blindness
(EUA/Japão/Canadá/Brasil, 2008). De Fernando Meirelles. Com Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover, Gael García Bernal e Alice Braga.

Pra quem não leu "Ensaio Sobre a Cegueira", do mestre José Saramago, porque nunca gostou de ler nenhum livro, é bom não passar nem perto do filme. Blindness não é um blockbuster. Não é pra ser visto só porque Fernando Meirelles é brasileiro. Mas pra quem não leu o livro porque simplesmente não teve oportunidade, o filme é um prato cheio. Não sei afirmar se o mesmo acontece com quem leu o livro, porque eu não li. Não li e me encantei. Entendi cada linha do livro de Saramago, do seu ''Ensaio", sem nunca ter lido nada além do título. Humanos reagindo por instinto são mais raivosos do que animais comuns, e talvez por isso Deus tenha escolhido essa espécie pra dar o raciocínio.

A história narra os acontecimentos decorrentes de uma epidemia inédita no mundo que deixa todos os contaminados com cegueira branca, apenas enxergando uma grande claridade branca e nada mais. À medida que a cegueira vai se espalhando, as pessoas vão sendo internadas em quarentena, pra evitar a proliferação do vírus (ou o que quer que seja). A única pessoa capaz de enxergar é a mulher do médico, que em meio ao caos que se forma quando muitas e muitas pessoas não param de chegar, se torna uma espécie de protetora de todos.

Não dá pra dizer onde a obra é de Saramago e onde é de Meirelles. Tudo no filme parece ter sido feito para que o livro fosse visualizado, incluindo sua narrativa (que é bem arrastada, como se estivéssemos lendo um livro). Algumas cenas fortes não impedem o envolvimento do espectador, que se engloba naquela situação de caos e animais vivendo em bando. Com certeza, a cena mais impactante é a do estupro das mulheres, que são exigidas em troca da comida quando um grupo de homens toma o poder do isolamento. Nenhum dos personagens tem nome próprio, o que desperta ainda mais o interesse.

Julianne Moore (a mulher do médico) está fantástica como há muito tempo não se via; Mark Ruffalo (o médico) mostra que definitivamente é um ator de talento; Danny Glover (o velho com a venda preta), ótimo como sempre; Gael García Bernal (o rei da ala 3) é Gael Garcia Bernal, ele sabe o que faz; Alice Braga (a mulher com óculos escuros), meio apagada, tenta achar o seu lugar e consegue; Fernando Meirelles mostra porque é um dos melhores diretores da contemporaneidade. Comentários para todos porque todos merecem. Saramago chorou, eu quase. E assim seguimos nós, não afetados pela cegueira física, porém mais cegos do que nunca.

Nota: 9,0

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