domingo, 21 de dezembro de 2008

Crepúsculo

Twilight (EUA 2008)
De Catherine Hardwick. Com Robert Pattinson, Kirsten Stewart, Bily Burke, Nikki Reed, Peter Facinelli.

Depois que "Harry Potter e as Relíquias da Morte" foi publicado, no ano passado, o mundo ficou ansiando por uma nova série que pudesse preencher o vazio que as aventuras do bruxo mais famoso da literatura acabara de deixar. O cinema tentou tapar o buraco, apesar de que a franuia nas telas ainda não terminou. Foi quando a britânica Stephanie Meyer lançou o livro "Twilight" com um dos assuntos mais batidos do mundo: vampiros. Pois bem, não somente ela escreveu uma brilhante saga diferente de tudo o que se havia visto até então, como respeitou a aura mágica que envolve esses seres que convivem com o imaginário popular há séculos e séculos. E mais, acrescentou aquela conhecida rebeldia adolescente e uma pitada de paixão com vampiros belos e formosos, e as frustrações passadas por uma menina num ambiente novo. Pronto.

Bella Swann acaba de se mudar para Forks, uma cidade no interior de Washington, onde o tempo parece sempre estar fechado. Ela vai morar com o pai, após anos de afastamento, mas esse não é seu único problema: tem que enfrentar a horda de ser a novidade da cidade grande numa cidade do interior, sobretudo na nova escola. Porém, é quando encontra o jovem Edward Cullen que sua vida começa a mudar drasticamente. Sobretudo porque Edward é um vampiro. Mal sabe ela, mas ele não é o único e ao começar a conviver com ele e sua família, pode estar colocando a sua própria vida em perigo.

A diretora Catherine Hardwick conseguiu transcrever para o filme exatamente as mesmas sensações que o livro consegue causar. A paixão de Bella, sua facilidade de se meter em problemas, os medos de Edward de a colocar em perigo, tudo. O ritmo é apenas um pouco acelerado, e deve ser mais compreensível para quem já leu o livro (caso raro para uma adaptação literária, já que quase sempre a cópia sai infiel ao original). O que mais salta à vista de contraste com o livro são as partes das caças dos vampiros do mal, James, Laurent e Victoria, que recebem mais destaque desde o início do filme - no livro, apenas no final eles começam a ser mencionados.

Para aqueles que queriam uma franquia arrebatadora, essa deve funcionar. A sequencia do filme , Lua Nova, baseada no segundo livro da série, já está sendo encomendada e os atores principais já confirmaram suas participações. O sinal que faltava era a arrecadação nas bilheterias de "Crepúsculo". Então, pode apostar, sinal verde já foi dado com certeza.



Nota: 9,0

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O que esperar de Austrália


"Para 'Moulin Rouge' fizemos tudo no estúdio, mas para esse filme estivemos em locações o tempo inteiro - em Darwin, em Queensland e depois acampamos em tendas no meio do deserto". Foi com essas palavras, há um certo tempo atrás, proferidas por uma bastante empolgada Nicole Kidman, que se abriram oficialmente os comentários a cerca de "Austrália". Esse é o novo filme do diretor Baz Luhrmann, que volta à cena cinematográfica com esse que promete revolucionar o cinema australiano (O uso das palavras "austrália", "australiano" e derivados vai ser visto, irreparavelmente, com muita frequência!). Se afastando da chamada "Trilogia da Cortina Vermelha", construída pelo diretor com os filmes "Vem Dançar Comigo"(1992), "Romeu+Julieta" (1996) e "Moulin Rouge - Amor em Vermelho" (2001), Luhrmann agora se entrega neste épico que conta com a terra dos cangurus como pano de fundo.

O filme traz a história da aristocrata inglesa Lady Sarah Ashley (Kidman), que herdou um grande rancho no norte do país. Procurando combater um barão inglês que quer comprar as suas terras, ela se alia a um vaqueiro (Hugh Jackman, também australiano) para retirar as cabeças de gado da moça do local. É quando eles se vêem no meio da II Guerra Mundial, quando a cidade australiana de Darwin está prestes a ser bombardeada pelas tropas japonesas. Um roteiro e tanto que já está sendo tido como o maior filme da Austrália de todos os tempos. Mas o que podemos esperar do longa? Competência na direção? Baz Luhrmann já deu provas disso, principalmente ao elevar a carreira de Nicole Kidman. Essa também não podia estar mais animada com a produção, já que passou por uma relativa baixa na carreira depois de seu Oscar por "As Horas" (vida "A Feiticeira", "Invasores", "Reencarnação"...)

O elenco ainda tem o já renomado Hugh Jackman, que deu uma pausa com as garras de um certo guerreiro mutante de adamantium, para participar de uma produção de seu país natal. "Este filme estará em uma escala jamais vista antes. É de longe o maior filme australiano já feito", palavras do próprio Jackman. Contudo, o filme traz aquele clima de "feito pro Oscar", com uma fórmula meio batida, o que me fez lembrar de imediato "Cold Mountain" (coincidentemente, também com Nicole Kidman). Mas sempre há espaços pra surpresas, e é o que promete essa produção, mostrando mais de um país do oceano Índico como nenhum outro fez antes (talvez "O Senhor dos Anéis", na Nova Zelândia), com planos que revelam uma natureza única e o impacto do clima de lá.

Já bem cotado para o Oscar de 2009 (apostas, alguém?), "Austrália" já tem data prevista de estréia no Brasil, dia 25 de dezembro desse ano. Um pouco distante, mas mesmo assim, o agito em torno do filme tem sido forte. O trailler divulgado pelo menos já dá aquela boa sensação de uma grande produção vindo. Baz Luhrmann volta a ser notícia, depois de ter dado a partida na nova onda dos musicais com "Moulin Rouge". Hugh Jackman volta a ser notícia, criando expectativa em torno de mais uma boa interpretação. Nicole Kidman é notícia de qualquer jeito. O resultado a gente confere no fim do ano.

sábado, 29 de novembro de 2008

Queime Depois de Ler

Burn After Reading (EUA 2008)
De Joel e Ethan Coen. Com George Clooney, Brad Pitt, John Malkovich, Tilda Swinton, Francis McDormand, J.K. Simmons.

Depois de super esperado no festival do Rio desse ano, Queime Depois de Ler agora chega às salas de cinema de todo o país para levar um pouco da tragédia alheia para que nós possamos rir. O começo e o fim do filme mostram imagens de satélite que começam no globo terrestre e vão se aproximando até chegar na cidade em que a história acontece. Talvez um indício de que seu desenrolar poderia acontecer em qualquer lugar. Os Coen compuseram uma obra tão rica e complexa e uma comédia fantástica, se formos pensar que a obra funciona melhor como comédia do que como ação ou drama. Na verdade, apesar da história dramatica, o filme é um comédia. Humor negro como só eles sabem fazer. É Fargo novamente, meus caros, os irmãos controversos de volta a sua velha forma.

A história é complexa, vamos lá. Osbourne Cox (John Malkovich) é um ex-agente da CIA que começa a escrever seu livro de memórias. Enquanto isso, sua esposa, Katie (Tilda Swinton) contrata os serviços de uma advogdo para dar entrada no seu divórcio e analisar suas finanças. Esse advogado pede a sua secretária para gravar os dados em um cd, mas ela perde o tal cd na academia. Academia essa onde trabalham Chad (Brad Pitt) e Linda (Francis McDormand). Chad encontra o cd e acha que tem arquivos secretos da CIA, quando são apenas dados financeiros. Ele convence Lina a chantagear Cox para poderem ganhar algum dinheiro. Linda está desesperada para fazer suas 4 cirurgias plásticas então aceita o negócio. Ela é uma mulher que se envolve com caras da internet, um deles é Harry (George Clooney), ex-guarda costas que por acaso é amante de Katie, esposa de Cox. Vixe!
Só pelo roteiro complexo podemos imaginar que só mesmo os Coen podem fazer uma mágica capaz de ligar todos esses elos. E eles fazem. O roteiro praticamente não tem falhas, sem falar nas suas piadas de humor negro que não poderiam faltar. george Clooney e Brad Pitt estão diferentes de tudo o que já fizeram e John Malkovich está ótimo como sempre.Tilda Swinton também se sai bem, e esse, posso dizer com absoluta certeza, foi o primeiro filme dela que eu a achei bonita! Francis McDormand fantástica, enfim, tudo muito bom mesmo.

Ficamos sempre na expectativa depois que um diretor faz um enorme sucesso com um filme (nesse caso, Onde os Fracos Não Tem Vez). Algumas vezes não dá certo e o público se decepciona. Parece que isso não deve acontecer tão cedo com os irmãos, que sabem costurar pontas soltas como ninguém e fazer filmes estupendos. Já virei fã. E a academia deve estar com sérios problemas se ignorar Queime Depois de Ler no Oscar. Os atores acho meio dificil levar, mas pra filme, direção e roteiro uma indicação tem que sair. Vamos esperar até fevereiro e confirmar os fatos. Nunca foi tão bom terminar um festival.

Nota: 10 (e fuck-se o Bonequinho!!!!)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Max Game

Max Payne (EUA, 2008)
De John Moore. Com Mark Whalberg, Olga Kurlyenko, Nick Nolte, Chris O'Donnell.

Mas Payne é uma tremenda dúvida. Calma, fãs de Rock Bola, não é nesse sentido. Filmes que são adaptações de videogames sempre carregam consigo uma aura de esperança. Afinal, Hollywood continua ansiando que essa possa ser a sua próxima galinha dos ovos de ouro. Nem sempre os resultados saem tão bem - vide Resident Evil e uma penca de outros. O cinema não quer só ganhar dinheiro, quer qualidade também. É em busca dessa qualidade, além da fidelidade ao game, que Max Payne chega aos cinemas cheio de expectativas.

O detetive Max Payne (Whalberg) tem sua família assassinada misteriosamente por uma gangue local, mas o caso nunca ficou totalmente esclarecido. Trabalhando com arquivista da polícia de dia, e como justiceiro de noite, Payne vai atrás de justiça com as próprias mãos, atrás daqueles que tiraram o que ele tinha de mais precioso. Só o que ele não imagina é que vai enfrentar uma trama muito mais complexa, que envolve tráfico de drogas, experiências genéticas militares e muitos assombros sobrenaturais.

A premissa do filme é boa e como filme de ação, funciona que é uma beleza. O visual sombrio realmente impressiona e ajuda bastante. Só que o roteiro é incrivelmente confuso e tem horas que o expectador precisa fazer força pra entender o que acontece. Mark Whalberg não segura o personagem com firmeza, tendo alguns deslizes bonitos de caráter (uma hora ele é forte e durão, outra hora é mole que nem uma moça!). Chris O'Donnell ressurge não sei de onde com uma interpretação altamente esquecível. Olga Kurlyenko, a mais nova bondgirl, vale o ingresso. Fãs do videogame já apontaram que fidelidade não é um ponto forte do filme.

Max Payne, o jogo, foi o inventor do efeito bullet time nos videogames, aquele que mostra o trajeto da bala em câmera lenta, que no cinema ficou tão popular em Matrix. O filme pouco utiliza o recurso e em momentos perdidos. Se apostasse numa coordenação maior de efeitos e história, poderia ser o filme de games definitivo. Bem, mais sorte da próxima vez.

Nota: 6,0

A Duquesa

The Duchess (UK, 2008)
De Saul Dibb. Com Keira Knightley, Ralph Fiennes, Dominic Cooper.

Na abertura da mostra Foco UK do Festival do Rio, fomos brindados com um filme incrivelmente belo de se assistir, com uma fotografia perfeita, figurino impecável e roteiro que prende o espectador. Coisa de inglês. Por isso é bem cara de Oscar. Uma mistura de "Maria Antonieta", "A Outra" e "Desejo e Reparação". Ponho minhas mãos no fogo e corto fora se não vier uma indicaçãozinha que seja, nem que seja de figurino, para esse "A Duquesa". Nem por isso tudo, o filme deixa de ser bom.

O filme conta a história real da Duquesa Georgiana de Devonshire, que se tornou uma das mulheres mais respeitadas da Inglaterra do século XVIII por seu engajamento político e apelo popular. Quase uma Maria Antonieta inglesa, o que a duquesa fazia logo virava referência à corte inteira. Casada como Duque William, ela vê seu casamento de fachada se desmoronar quando seu marido se revela um mulherengo autoritário e acaba virando amante da melhor amiga da esposa. Some-se a isso o fato de Georgiana não poder dar filhos homens ao duque e um amor de juventude não correspondido, temos a maior fofoca da corte inglesa.

Um incrível filme inglês. Um hino à Inglaterra, pra ser mais preciso. A hstória torna-se rocambolesca como uma novela, mas prende o espectador, justamente por ter no texto uma fórmula que funciona. Keira Knightley convence como mocinha (em mais um filme de época, diga-se de passagem) mas não como duquesa de quase 30 anos com 5 filhos no currículo. Seu carisma funciona nas discussões políticas e no engajamento social, mas como mãe parece mais uma irmã mais velha.Fora isso, sua atuação não podia ser melhor (oscar???). Ralph Fiennes está meio apático, mas inglês, como sempre. Dominic Cooper mostra que tem algo a mais a oferecer que não o noivo apático e gostosão de "Mamma Mia!".

Um filme pra ser apreciado quando sair no circuito, mas ele não tem muitas surpresas. É visalmente bonito, o figurino realmente encanta e a história também. Keira Knightley consegue segurar o filme nas costas com sua presença e todos torcem para que ela faça uma revolução, num tempo em que mulheres mal podiam sair de casa. Coisa de inglês, mas veremos como vai se sai sozinho, batalhando nas premiações do começo do ano que vem. Bafta com certeza já é certo.

Nota: 8,0

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

1 ano de CINEMARCOS!!! \o/ \o/


"Pra começar a postar num blog, decidi escolher falar sobre o nada. Porque foi assim o feriadão que passou. Um grande nada. Um vazio desesperador, a procura de coisas que deveriam acontecer mas nao aconteceram. Procurando respostas que deveriam ser tão óbvias, mas que não são. Por que a sensação de que nunca estamos satisfeitos com o que temos aparece nas horas em que vc menos precisa que elas apareçam? Se alguém que ler souber responder, vou começar a tratar de assuntoos assim, a partir de agora. Vou me forçar a escrever um blog. Dividir o que eu passo e sinto, o que eu gosto com quem estiver disposto a ouvir. Quem não estiver, blz. Mas vou me forçar a falar de vez em quando... "

Esse foi o primeiro texto que eu escrevi para esse blog. A idéia era mesmo falar de mim, falar do que eu sinto, dividir as coisas que eu gosto. Tanto que o texto que veio logo a seguir - sobre o filme "Leões e Cordeiros" que eu tinha acabado de assistir - é mais ou menos sobre as sensações que eu tive quando assisti ao filme. Ao longo do tempo, escrever sobre mim foi ficando cada vez mais impossível, porque o cinema foi tomando conta.

O "Cinemarcos" acabou se tornando uma fonte de exercício pra que eu pudesse desenvolver aquilo que eu estava começando a aprender com as aulas de jornalismo. Depois dele vieram os textos do "Rapadura Blog", uma experiência sensacional que só ajudou a afirmar que eu quero trabalhar com cinema, viver de cinema. Quero escrever, falar, respirar cinema enquanto ele existir. Há um ano brincando de ser crítico, já vivi tanta coisa e ao mesmo tempo nada. Relendo esse texto que foi escrito há um ano, exatamente, é triste ver que nada mudou. Ou não, é bom ver que eu continuo o mesmo, que aprendeu as coisas necessárias mas que não perdeu a sua essência.

Vamos levando a vida, pretendo escrever mais sobre cinema porque cinema e vida se misturam. Ainda vou tentar escrever sobre mim, quem sabe um dia faço sucesso com as minhas próprias histórias. Enquanto isso, o "Cinemarcos" vai servindo como arquivo pessoal pros meus textos e reflexões, mesmo que ninguém leia. Ou só leia de vez em quando...Mas enfim, que venham mais outros anos como esse, que pode ter tido seus percalços, mas foi um ano incrível...

Ah, e os melhores filmes desse ano?
Vicky Cristina Barcelona, Queime Depois de Ler, REC, Mamma Mia!, Juno e Batman - O Cavaleiro das Trevas.
(Por melhores, leia-se particularmente, que mais mexeram com as emoções).

Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada


Dan in Real Life (EUA 2007)
De Peter Hedges. Com Steve Carrell, Juliette Binoche, Dany Cook, Amy Ryan.

É engraçado como Steve Carrell se coloca facilmente em papéis do tipo"perdedor convicto". Foi assim em "O Virgem de 40 anos", em "Pequena Miss Sunshine" e até em "Agente 86". Pois bem, em "Dan in Real Life" (me recuso a dizer o nome em português além do título) não é diferente. Nessa comédia romântica, o ator prova mais uma vez porque é o comediante mais querido da atualidade e lembra aos grandes de Hollywood que não é preciso efeitos especiais mirabolantes pra se fazer um filme deliciosamente divertido.

Dan é um jornalista que escreve colunas inspiradoras sobre com as pessoas devem levar as suas vidas de uma maneira simples e sem preocupações. Ele mesmo é que parece não ouvir seus próprios conselhos. Viúvo e pai de três meninas (duas adolescentes e uma quase pré-adolescente), ele vai passar uma temporada num encontro de família que sempre acontece, reunindo todos os parentes. Quando resolve dar uma volta pela cidade natal, encontra numa livraria Marie, uma mulher inteligente e sofisticada que chama a sua atenção. Os dois passam uma tarde agradável conversando mas a surpresa acontece quando Marie precisa sair porque é comprometida. Dan passa o caminho de volta pensando na mulher e quando chega em casa tem uma desagradável surpresa: Marie é ninguém menos do que a namorada do seu irmão! Agora, além de lidar com seus problemas familiares ele precisa dar um jeito de conviver com esse novo sentimento que, de certa forma, deveria ser proibido.

O filme tem uma narrativa legal e é todo centrado em Dan. Alguns bons momentos de Danny Cook são logo ofuscados por Steve Carrell. Juliette Binoche está ótima atriz como sempre, mas não sei se seu talento, tão acostumado com filmes mais profundos, como "Caché" e "O Paciente Inglês", fica muito à vontade numa comédia romântica. Parece um grande desperdício. E em dado momento da trama, a mudança de humor do personagem de Dan, de um sujeito legal para um cara grosso e arrogante (perverso às vezes), acontece de forma brusca. Mas todas essas coisas acabam se acomodando bem ao roteiro e a trama segue num tom leve e descontraído.

Nota: 7,5

domingo, 16 de novembro de 2008

3, 2, 1 - Gravando

[REC] (Espanha, 2007)
De Jaume Balagueró e Paco Plaza. Com Manuela Velasco, David Yert, Vicente Gil.

A fórmula de "A Bruxa de Blair" chegou ao mercado muito inovadora, revolucionando o cinema de terror dos anos 90. Dali por diante, qualquer técnica parecida seria tachada de cópia ou todos remeteriam ao filme de 1997, onde assistimos ao pânico de três amigos numa floresta sendo perseguidos por alguma assombração - tudo isso registrado pela câmera portátil deles. "Cloverfield - Monstro" usou a mesma estética de filmar com uma câmera amadora o ataque de um monstro em Nova York, mas deixou o ego de uma superprodução tomar conta de si. Isso é o que não acomtece em "REC" produção espanhola de 2007, que chega ao Brasil com atraso. Pois lhes digo, antes tarde do que nunca é bom ver um filme de terror decente pra variar.

O filme na verdade é o material de vídeo de uma equipe de TV - Ângela Vidal, a repórter e Pablo, o cinegrafista - que estava acompanhando uma noite de trabalho com o corpo de bombeiros local. Quando eles recebem um chamado para atender a uma senhora que está presa em seu apartamento, supostamente desmaiada, eles são pegos de surpresa por uma situação altamente incomum. Ao se deparar com a tal senhora percebem que ela está possuída por algum tipo de enfermidade. Quando a defesa civil decide então interditar o prédio por conta de alguma ameaça biológica, bombeiros, policiais, vizinhos e a equipe de TV ficam presos dentro do edifício, tendo que conviver com uma ameaça que eles nunca esperaram encontrar: um vírus que transforma humanos em zumbis comedores de carne. Tem início uma guerra pela sobrevivência de cada um deles.



O bom de "REC" é simplesmente a forma despretensiosa que os sustos são aplicados. Você sabe que os zumbis podem atacar e aparecer a qualquer momento, mas os gritos de pânico são inevitáveis. Sem falar da forma como são mostrados os fatos desde o início, pela camera de tv do cinegrafista. O filme ainda traz um final que amarra as pontas que vao sendo deixadas soltas ao longo do filme e peca pelo exagero em alguns aspectos. Ele é enfadonho em algumas partes, sobretudo nas partes em que Angela decide usar seu espírito jornalista e entrevistar os confinados, o que causa os bons momentos engraçados do filme - o que é contraditório se você pensar que há zumbis do lado de fora querendo seu pescoço. Mais contraditório ainda econfuso: porque raios alguém continua filmando com tanta destreza e competência com um enxame de zumbis devorando seus companheiros? Enfim, é um filme.

Esses ligeiros desvios não influem em nada para destruir a maestria em que REC se transforma.As atuações estão ótimas, de todos os atores, e ainda conta com alguns veteranos para dar um tom mais despretensioso ainda. Vale incrivelmente pelos sustos que prega e mostra que Hollywood tem muito que aprender. O cinema espanhol se coloca mais uma vez em voga (na verdade, o fato de ser espanhol dá um charme maior ao filme). Não me espanta se daqui há pouco fizerem uma refilmagem americana do filme. "REC" é com certeza um dos melhores filmes de terror que eu já assisti e recomendo pra todo mundo que sente falta de um susto de vez em quando.

Nota: 8,5

Assista abaixo o trailler do filme:

sábado, 15 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona


Vicky Cristina Barcelona (Espanha/ EUA, 2008)
De Woody Allen. Com Javier Bardem, Rebeca Hall, Scarlet Johanson, Penelope Cruz, Patricia Clarkson.

Dois filmes em especial são os mais esperados do Festival do Rio. Um é Queime Depois de Ler, dos irmãos Coen, e outro é esse aqui. Com uma fila gigantesca, que aliás, já é comum nesse festival, Vicky Cristina Barcelona, do mestre Woody Allen, estreou com uma mágica no ar. Afinal, o filme passou pelos festivais mundo afora e trouxe um pouco de polêmica e expectativas na bagagem. Nada novo para um filme de Woody Allen.

A história se passa na cidade de Barcelona (óbvio). Duas amigas, Vicky e Cristina (óbvio, de novo) estão em férias na cidade. Vicky está procurando informações sobre a cultura catalã para seu mestrado. Cristina apenas está curtindo a aventura. As duas tem a personalidade mais diferente possível. É quando em uma visita a uma galeria de arte conhecem Juan Antonio, um pintor que se separou a pouco tempo da esposa e acaba por seduzir as duas amigas. Apesar de difícil e racional, Vicky se entrega ao pintor, mas está noiva e logo desiste da idéia. Juan Antonio então vai com tudo pra cima de Cristina, que gosta da idéia e embarca de cabeça no romance. É quando tudo parece que está se endireitando - Vicky inclusive casa em Barcelona - que a ex-esposa de Antonio, Elena, retorna e passa a fazer parte da história. Vicky ainda se descobre terrivelmente apaixonada pelo pintor espanhol.

Woody Allen entregou uma história muito leve, divertida e intensamente provocante. O diretor desafia as pessoas a continuarem apoiando a história, como se realmente existissem várias verdades para uma mesma coisa, como diz Maria Elena, personagem de Penelope Cruz, que aliás, está competente como sempre. Apesar de ter sido transformado no galã que não queria ser, Javier Bardem sempre vai ser Javier Bardem e está impecável no papel do sedutor. Scarlett Johanson nunca esteve tão linda em um filme e sua Cristina é o retrato perfeito de uma grande aventura. Quem ficou muito apagada por conta da divulgação, mas que é tão importante para a história quanto os demais é Rebecca Hall. Vicky é peça chave da trama, sem ela, não existiria metade dos conflitos do filme e Rebecca está muito competente como a mulher dividida entre a razão do casamento e o coração.

O filme é intenso e bem atual. O diretor toca em assuntos delicados como uma relação a três com tanta naturalidade, que é compreensivel entender porque tanta gente ficou escandalizada ao redor do mundo. Ele finalmente encerra a sua temporada inglesa (Match Point, Scoop e O Sonho de Cassandra) e encaixa Barcelona com suavidade, no pano de fundo perfeito para a hstória. Se fosse em qualquer outro lugar do mundo talvez a história não funcionasse. Deve ter sido a magia de Barcelona. E Woody Allen, apesar de tudo, sempre é Woody Allen.

Nota: 9,0

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

1 ano de CINEMARCOS

Há um ano me meti nessa aventura de escrever em um blog. O que era pra ser só um exercício de jornalismo acabou virando uma missão de colocar sempre no papel (no caso, na tela) as melhores - ou piores - impressões do cinema. Depois de um ano inteiro, aprendi muito, muita coisa aconteceu e as perspectivas mudaram. Hoje o "Cinemarcos" é mais do que apenas um blog pra mim. É a expressão máxima de impressões que significam a minha própria vida.

Como todo mundo já sabe, a cada semana o banner troca, sendo customizado com cada filme. Isso deve mudar em breve, o blog vai ganhar uma cara única. Até lá, confira como já foi a imagem do nosso querido Cinemarcos.blogspot: Uma ponto de vista diferente - através do cinema, claro!

Cinema enjoa?

sábado, 11 de outubro de 2008

Violência Gratuita

Funny Games (EUA 2007)
De Michael Haneke. Com Naomi Watts, Tim Roth, Michael Pitt, Brad Colbert.

Depois de muito esperar, eis que finalmente Violência Gratuita, versão USA, estréia por aqui. São poucos os filmes que despertam tanta expectativa dessa maneira, e talvez o pôster de Naomi Watts chorando tenha sido o responsável imediato, já que prometi assistir a tudo o que Naomi fizer no cinema. Mas depois de já conhecer a sinopse e toda a história de desenvolvimento do filme, posso dizer que já entrei na sala de cinema com medo. Sim, estava com medo. Sabia o que ia acontecer, sabia que a cara de rapazes bem educados de Michael Pitt e Brad Colbert escondiam dois sádicos, mas nem assim deixei de ter medo pelo que iria acontecer.

Violência Gratuita conta a história de um casal e seu filho que vão passar o fim de semana numa casa de férias e são surpreendidos por dois rapazes bem educados e aparentemente santos e tranquilos. Os dois entram na casa e se recusam a sair, é quando começa a tortura dos dois com a família, que passa a ser vítima de jogos sádicos onde está em jogo a vida dos três. Agressões, espancamentos, terror psicológico, piadas com as vítimas e tudo sem a menor explicação. Tudo é mesmo gratuito.



O que diferencia o filme de Haneke de um filme tosco e sem explicações é a maneira como o filme é conduzido. Esse é um remake de uma obra sua de 1997, e todos os padrões do original foram mantidos, com exceção de uma ou outra cena que se adequou ao século XXI. Tudo na casa é branco, talvez para se contrastar com a violência que se instala no lugar. O filme tem planos longos, mas possivelmente para atraira a tenção do expectador para alguma coisa que possa acontecer. E acontece, o sofrimento de cada um dos personagens é acompanhado de perto em longas sequencias sem cortes, sobretudo quando (... censurado...).

Todo o elenco está muito bem, Naomi Watts é competente no papel da esposa, Tim Roth como o marido que se sente incapacitado de proteger mulher e filho dos agressores também está ótimo. Mas a dupla Michael Pitt e Brad Colbert não poderia estar melhor. A cara de anjo de Pitt e de criança de Colbert são a essência dos personagens e do filme como um todo. Um aviso de que a violência pode vir de onde menos se espera, de que não se pode confiar em todo mundo. Não fica muito claro o porqueê, lembra muito a abstração de "Onde os Fracos Não Tem Vez", mas de qualquer modo, a violência é gratuita, isso já foi avisado.

OBS: Um detalhe importante e incrivelmente interessante do filme é o fato de o personagem de Michael Pitt vez ou outra olhar para a câmera e conversar com o espectador na sala de cinema. Medo...

Nota: 8,5

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Queime Depois de Ler

Burn After Reading (EUA 2008)
De Joel e Ethan Coen. Com George Clooney, Brad Pitt, John Malkovich, Tilda Swinton, Francis McDormand, J.K. Simmons.

O filme mais aguardado do festival foi um ótimo programa de encerramento para o mesmo. A melhor forma de encerrar o Festival do Rio foi sem dúvida assistindo a Queime Depois de Ler. Os Coen compuseram uma obra tão rica e complexa e uma comédia fantástica, se formos pensar que a obra funciona melhor como comédia do que como ação ou drama. Na verdade, apesar da história dramatica, o filme é um comédia. Humor negro como só eles sabem fazer. É Fargo novamente, meus caros, os irmãos controversos de volta a sua velha forma.

A história é complexa, vamos lá. Osbourne Cox (John Malkovich) é um ex-agente da CIA que começa a escrever seu livro de memórias. Enquanto isso, sua esposa, Katie (Tilda Swinton) contrata os serviços de uma advogdo para dar entrada no seu divórcio e analisar suas finanças. Esse advogado pede a sua secretária para gravar os dados em um cd, mas ela perde o tal cd na academia. Academia essa onde trabalham Chad (Brad Pitt) e Linda (Francis McDormand). Chad encontra o cd e acha que tem arquivos secretos da CIA, quando são apenas dados financeiros. Ele convence Lina a chantagear Cox para poderem ganhar algum dinheiro. Linda está desesperada para fazer suas 4 cirurgias plásticas então aceita o negócio. Ela é uma mulher que se envolve com caras da internet, um deles é Harry (George Clooney), ex-guarda costas que por acaso é amante de Katie, esposa de Cox. Vixe!

Só pelo roteiro complexo podemos imaginar que só mesmo os Coen podem fazer uma mágica capaz de ligar todos esses elos. E eles fazem. O roteiro praticamente não tem falhas, sem falar nas suas piadas de humor negro que não poderiam faltar. george Clooney e Brad Pitt estão diferentes de tudo o que já fizeram e John Malkovich está ótimo como sempre.Tilda Swinton também se sai bem, e esse, posso dizer com absoluta certeza, foi o primeiro filme dela que eu a achei bonita! Francis McDormand fantástica, enfim, tudo muito bom mesmo.



Ficamos sempre na expectativa depois que um diretor faz um enorme sucesso com um filme (nesse caso, Onde os Fracos Não Tem Vez). Algumas vezes não dá certo e o público se decepciona. Parece que isso não deve acontecer tão cedo com os irmãos, que sabem costurar pontas soltas como ninguém e fazer filmes estupendos. Já virei fã. E a academia deve estar com sérios problemas se ignorar Queime Depois de Ler no Oscar. Os atores acho meio dificil levar, mas pra filme, direção e roteiro uma indicação tem que sair. Vamos esperar até fevereiro e confirmar os fatos. Nunca foi tão bom terminar um festival.

Nota: 10